
É Técnica Superior de Educação na divisão de Educação da Câmara Municipal de Guimarães e assume como missão individual o desenvolvimento de uma sociedade melhor. Entende que o cumprimento dessa missão só se realiza envolvendo as crianças e, por isso, considera que é essencial trabalhar com e para elas. Vânia Silva é a atual coordenadora do eixo Educação do plano local do programa Guimarães, Cidade Amiga das Crianças e assume este convite como o realizar de um sonho.
Guimarães, Cidade Amiga das Crianças (GCAC) - O que a move?
Vânia Silva (VS) - A minha motivação traduz-se na importância do que as crianças representam para mim na construção de uma sociedade capaz. A meu ver incidir pelo início do ser enquanto indivíduo traz ao de cima o motivo pelo qual considero essencial trabalhar com e para crianças. Acredito que as crianças formam atitudes futuras desencadeadas da educação na infância e acredito que ao trabalharmos questões essenciais nestas faixas etárias criaremos um futuro melhor para a sociedade em geral.
GCAC - Quando é que a sua relação com a área da educação e com as crianças começou a manifestar-se em termos profissionais?
VS - O meu percurso profissional iniciou-se muito cedo com crianças. Desde tenra idade tive a noção que a minha vocação académica e profissional estaria ligada às crianças e comecei por trabalhar enquanto estudava no ensino secundário em ateliers de tempos livres para crianças. Decidi ingressar na licenciatura de Ensino Básico – 1.º ciclo exatamente pela ligação tão estreita que teria enquanto professora com crianças, acreditando sempre que poderia fazer a diferença sobre as diferentes áreas da sua formação formal e não formal. Ao longo dos treze anos em que trabalho na função pública, tive a oportunidade de experienciar várias áreas de atuação: desde professora de atividades extra curriculares, a contextos diversificados como a Polícia Municipal, Mobilidade e Transportes, até chegar à equipa multidisciplinar de educação da Divisão de Educação do município de Guimarães, que me deu a oportunidade de conhecer no terreno a realidade escolar, através da implementação de um projeto educativo nas escolas básicas do município. A partir deste contexto, iniciei o mestrado em Administração Pública e integrei o mesmo departamento, mas num outro contexto, conciliando o carácter administrativo da educação e o acompanhamento de vários projetos educativos intrinsecamente ligados à educação no nosso município.
GCAC - Que serviços a divisão da Educação da CMG oferece?
VS - Os serviços prestados pela divisão de educação a nível municipal são cada vez mais abrangentes, sendo que as competências do município na área da educação vão desde a ação social escolar, os apoios socioeducativos, os transportes escolares, gestão de recursos humanos e alimentação até à implementação de variados projetos educativos que visam aperfeiçoar a aprendizagem e alcançar o sucesso educativo das crianças e jovens vimaranenses.
GCAC - Que atividades gostaria de realçar que tenham desenvolvido, até agora, dirigidas às crianças?
VS - É sempre difícil elencar atividades concretas, dado que no nosso município há um leque alargado de projetos educativos que promovem atividades com o objetivo de desenvolver competências em diferentes áreas, sendo elas formais ou não formais e têm assumido um papel de destaque nas nossas escolas. Os alunos são aqueles que poderiam realçar alguma atividade, no entanto as opiniões divergem sempre, tendo em conta que, nem todos elegem as mesmas áreas, daí a importância de abrangermos um grande leque tendo em conta as diferentes áreas de atuação. Mas posso enumerar alguns, entre os quais o “Projeto Mais Cidadania”, “No poupar é que está o ganho”, “Hypatiamat”, “Prochild Colab”, “Curtir Ciência”, “(Re)conhecer Guimarães”, entre outros.
GCAC - É possível avaliar a importância da existência deste departamento da CMG para o território vimaranense?
VS - A Câmara de Guimarães, no contexto das atribuições legais reservadas aos municípios, atua em vários domínios designadamente na implementação de atividades, administra edifícios, equipamentos e materiais escolares, assegurando as condições para o pleno funcionamento das escolas e garantindo o apetrechamento dos estabelecimentos de educação sob a sua responsabilidade, no entanto a sua atuação vai muito além das responsabilidades atribuídas.
Pretendemos proporcionar um ensino equilibrado no território, na tentativa de um ensino igualitário, uniformizamos medidas e garantimos que os nossos alunos tenham acesso à nossa história, ao património local, costumes e valores da realidade local, e privilegiamos sempre a opinião das crianças, validamos as suas aspirações e perspetivas para que as políticas públicas implementadas em Guimarães vão de encontro ao que pensam e sentem.
GCAC - A pandemia trouxe desafios acrescidos em todas as áreas…Quais foram os efeitos sentidos na educação e os problemas mais difíceis de resolver?
VS - A recente pandemia colocou em relevo as vastas desigualdades e iniquidades que continuam a atormentar os sistemas de educação em todo o mundo. Aqui em Guimarães no âmbito da educação a necessidade tecnológica foi um constrangimento evidenciado, considerando que era essencial para a prossecução do ensino à distância. Neste âmbito foram unidos esforços pelo município e conseguimos que as necessidades elencadas pelos agrupamentos de escolas fossem supridas através do empréstimo de equipamentos tecnológicos e internet necessários para que tudo corresse com a maior naturalidade possível naquele momento.
GCAC - Está a realizar-se o acolhimento aos refugiados ucranianos, nomeadamente, às crianças que fogem da guerra com a Rússia: como se está a concretizar a inclusão destas crianças na escola?
VS - Sim, atualmente o município de Guimarães recebeu um afluxo de crianças refugiadas ucranianas, que representam um desafio particular na integração da educação local, tendo como óbvia a barreira linguística. O nosso maior propósito é integrar estes estudantes ucranianos no menor tempo possível nas escolas da autarquia, criar pontes rápidas entre as escolas, encarregados de educação e alunos, de modo a normalizar e criar rotinas no menor tempo possível, garantindo sempre uma normalização do quotidiano destas crianças.
GCAC - Esta entrevista é motivada pelo facto de ser a coordenadora do eixo Educação do plano local do programa Guimarães, Cidade Amiga das Crianças: é uma responsabilidade que assumiu recentemente, como encarou o convite?
VS - Inegavelmente foi com muita honra que encarei este convite. É um privilégio fazer parte deste programa: fazer parte de um eixo tão importante como o da educação é tornar realidade tudo o que sempre perspetivei e apreciei na educação. A meu ver, a formação da sociedade nasce na infância e germina das experiências vivenciadas na mesma, o que tornou este convite no realizar de um sonho tendo em conta as minhas crenças, valores e aspirações pessoais.
GCAC - Na sua opinião, qual é a importância desta iniciativa da UNICEF?
VS - Na minha perspetiva é essencial que o Programa ‘Cidades Amigas das Crianças’ seja implementado em todo o território nacional e, é com orgulho que afirmo que o nosso município foi um dos pioneiros a implementá-lo, evidenciando a importância que representa municipalmente a participação dos cidadãos mais jovens na comunidade e nos processos de tomada de decisão que os envolvem, dando-lhes uma voz ativa e garantindo que as políticas públicas vão de encontro às necessidades de bem-estar das crianças.
GCAC - Quais são as expetativas da divisão da Educação e da Vânia em relação a este programa?
VS - Este programa desafia-nos constantemente. Temos que estar atentos às necessidades das nossas crianças, temos de ser criativos para chegarmos aos mais novos, para que nos cheguem sinais demonstrativos das suas necessidades, transformando as nossas políticas educacionais numa tradução do bem-estar infantil. É um caminho que estamos a fazer e as tentativas estão no terreno e em constante mudança com um único fim: dar voz às nossas crianças.
O Eixo da Educação tem um conjunto de parceiros que visam a persecução dos mesmos objetivos, há uma preocupação conjunta em influenciar positivamente as nossas crianças, através da promoção de desafios e atividade adequadas, favorecendo a sua inserção plena e participação produtiva na sociedade.
GCAC - Qual á importância da aposta num território amigo das crianças?
VS - A forma como este programa está implementado no nosso território persuade as crianças para questionarem, opinarem, propondo desafios adequados para que as suas opiniões tenham validade possibilitando-lhes irem mais longe no lugar que ocupam na sociedade local, favorecendo a participação produtiva na sociedade.
Temos sempre como premissa escutar atentamente as nossas crianças, respeitar, valorizar a sua forma de ser, pensar e atuar, utilizando uma comunicação que pretende provocar reflexões, mudanças de atitudes, a formação da sua consciência, o exercício responsável da sua liberdade e a sua capacidade de relacionar-se com os demais de forma ética. Sempre acreditei que é preciso uma aldeia para criar uma criança, por isso o meu foco é envolver as escolas, os professores, as famílias e a comunidade em geral para que as crianças estejam inseridas numa sociedade saudável e consciente de que todos têm deveres e direitos comuns.