O 25 de abril é uma data incontornável na história de Portugal porque uma ação liderada pelo Movimento das Forças Armadas pôs fim ao regime de ditadura que estava instalado desde 1933. A democracia foi implantada e o “Dia da Liberdade” é celebrado há 49 anos para que seja “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”. O programa Guimarães, Cidade Amiga das Crianças foi falar com vários herdeiros da Revolução dos Cravos nascidos muito tempo depois para perceber o que sabem e que importância dão a este episódico histórico.
“25 dia Abril é o Dia da Liberdade, os soldados decidiram fazer uma revolta”, começa por explicar Guilherme Leite, com nove anos.
Maria, sete anos, sabe “muito pouca coisa” porque vive na Noruega: “acho que se vivesse em Portugal saberia mais sobre o 25 de Abril”. “É importante para mostrar que as pessoas têm que ser livres, sem prejudicar os outros. Antes as pessoas não tinham liberdade para falar e era perigoso. Agora podemos falar”, termina o menino vimaranense estudante da Escola Básica da Pegada.
“O que eu ouvi é que é um Dia de Liberdade", continua a explicar Maria. "Nos velhos tempos, não podiam dizer o que eles quisessem nem escrever o que eles quisessem e depois do 25 de abril já podiam”, disse. “Eles” são todos os cidadãos portugueses que durante mais de 40 anos foram oprimidos pelas organizações repressivas e mecanismos de controlo do Estado Novo. “O ditador foi um senhor que caiu de uma cadeira, o Salazar”, conta Maria, acrescentando ainda que sabe que “houve uma guerra antes do 25 de abril” e que “os homens eram obrigados a ir combater, mesmo que não quisessem”.
Refere-se à Guerra Colonial Portuguesa em que as Forças Armadas Portuguesas e as forças organizadas pelos movimentos de libertação formados, em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique, por exemplo, se confrontaram entre 1961 e 1974, mas o 25 de abril também pôs fim a esta guerra que durava há treze anos.
O povo português esteve quatro décadas à mercê da censura e da limitação à liberdade de expressão, controlando os meios de comunicação social, a edição de livros e até de música. A Maria acredita que depois da Revolução dos Cravos “as pessoas ficaram mais felizes” porque “antes é como se vivessem numa prisão”.
Da mãe, a Maria soube que as mulheres, além de não poderem votar, “também não podiam publicar livros sem o pedido e a autorização do marido, do pai ou do irmão ou de algum homem na família”. “As pessoas não podiam andar na escola e tinham logo que ir trabalhar porque eram muito pobres”, lembrou, comparando com o que se passa com as crianças atualmente na Tanzânia. No âmbito de um projeto social que está a desenvolver na escola, esta aluna do 2.º ano, sabe que as crianças - e sobretudo as meninas - na Tanzânia “não podem andar na escola” e têm de ir trabalhar em casa e na agricultura.
Também Carlos Silva, com 17 anos, salienta que o 25 de abril simbolizou, por assim dizer, "o início da luta para as mulheres terem direitos como os homens".
A verdade é que os direitos das mulheres no Estado Novo eram tão limitados que só era possível abrir conta bancária, tomar contraceptivos ou sair do país com autorização do marido. As mulheres não podiam votar, não podiam ser juízas, diplomatas, militares ou polícias e as que trabalhavam ganhavam quase metade do salário pago aos homens. Os direitos das mulheres ficaram consagrados na Constituição da República de 1976.
A Ana Vitória tem necessidades educativas específicas mas sabe que o 25 de abril foi o dia em que começou a liberdade, em que as mulheres começaram a poder votar e que se colocaram cravos na ponta da arma e gritaram liberdade.
Aos 16 anos, Beatriz Dias, estudante da Escola Básica e Secundária Santos Simões, faz referência a um dos principais militares com participação direta no 25 de Abril: Otelo Saraiva de Carvalho. “Nas rádios ia passar a música “Grândola, Vila Morena” e quando a música tocasse eles iam exigir a rendição de Marcelo Caetano, as mulheres puseram cravos no cabo da espingarda dos soldados porque foi uma revolução pacífica.
A canção “E depois do Adeus” foi o primeiro sinal escolhido emitida pelos Emissores Associados de Lisboa como ordem para o movimento de libertação militar se preparar para avançar e depor o último presidente do Conselho do Estado Novo – Portugal seria representado no Eurofestival da Canção de 1974, o que explica escolha da canção de Paulo de Carvalho. O segundo sinal, a canção de Zeca Afonso que a Beatriz Dias refere, tinha o objetivo de dar luz verde aos militares que estavam mais distantes de Lisboa.
Beatriz Dias resume as conquistas deste evento como o dia em que “os portugueses fizeram uma revolução para que a ditadura do país acabasse e para que as pessoas pudessem opinar e não ter tantas restrições”.
Passadas quase cinco décadas deste acontecimento, a democracia continua a enfrentar muitos perigos e, por isso, a campanha #NãoPodias, promovida pela comissão comemorativa do cinquentenário da revolução do 25 de abril, explica aos jovens de hoje tudo o que era proibido há 50 anos.
O Ministério da Defesa avançou com um estudo para averiguar a importância que os jovens dão a 16 temas nas respetivas vidas. O resultado destes inquéritos aponta para um desinteresse generalizado pela participação e cidadania. Dos 135 mil jovens que integraram este estudo apenas 1,4%, ou seja, menos de dois mil, escolheu este tópico. O tema mais escolhido foi a «família e os amigos», com 51,8% das respostas.
E o Guilherme Leite e a Maria Moreira parecem confirmar as estatísticas a ver pela forma como passaram o feriado do 25 de abril: O Guilherme passou o dia "a fazer claque aos colegas” que participaram no evento promovido pelo projeto D.escolar que contou com mais de mil crianças, com idades entre os 6 e os 10 anos, pertencentes aos 14 agrupamentos de escolas. A Maria teve uma aula de Hip Hop. O 25 de abril torna-se assim a memória de uma conquista pela leveza da liberdade de se divertirem.