
É a partir da plataforma +Cidadania que os encarregados de educação das crianças vimaranenses podem aceder ao rastreio de saúde mental disponibilizado pelo ProChild CoLAB, no âmbito de um projeto que pretende promover o bem-estar e a resiliência das crianças e respetivas famílias.
Foi em março de 2020 que o projeto CoAction Against COVID-19 começou a ser pensado porque o ProChild CoLAB Against Poverty and Social Exclusion, um Laboratório Colaborativo, sedeado em Guimarães (ProChild CoLAB) desde logo previu os efeitos adversos da pandemia na saúde mental das crianças provocados pela alteração de hábitos, o encerramento de escolas e consequente isolamento, devido aos confinamentos.
“Percebemos que, efetivamente, pelos efeitos indiretos, as crianças seriam bastante impactadas nas suas rotinas, no seu dia-a-dia e que isso traria consequências para a sua saúde mental”, começa por contextualizar a psicóloga e investigadora Marlene Sousa associada ao Eixo da Saúde e Bem-estar do ProChild CoLAB no qual se enquadra este projeto. “E, portanto, desde logo pensamos como é que nós podemos ajudar as crianças do município de Guimarães, que é onde o ProChild tem a sua sede e desenvolve muitos dos seus projetos?”, acrescenta.
Foi, quase um ano depois, em fevereiro de 2021, que o rastreio online foi lançado através da Plataforma +Cidadania para identificar os potenciais problemas de saúde mental dos cerca de seis mil alunos ebtre os três e os 10 anos de idade das escolas do concelho.
Os encarregados de educação devem estar atentos a qualquer alteração do ponto de vista do funcionamento emocional ou do ponto de vista do comportamento da criança. Com este rastreio consegue-se avaliar um amplo espetro de sintomar, como as questões de humor, ansiedade, sinais de problemas de relacionamento com os outros: “Portanto, normalmente podemos estar a assistir a crianças que estão mais chorosas, mais tristes que se mostram mais em baixo, mais isoladas do ponto de vista social. Mas, por outro lado, também podemos estar a falar de crianças que estão mais agressivas, mais conflituosas”, exemplifica Marlene Sousa.
A confidencialidade e o anonimato são assegurados aos encarregados de educação que acedem ao inquérito. “Na verdade, são dois questionários: um questionário sociodemográfico, onde recolhemos informação sociodemográfica não identificativa e depois um outro questionário que avalia sinais indicativos de problemas de saúde mental”, esclarece Marlene Sousa.
Se forem identificados problemas do ponto de vista emocional ou comportamental a partir deste rastreio as crianças e respetivas famílias são avaliadas e, caso necessário, acompanhadas em consulta individual.
Até ao momento foram rastreadas cerca de 1100 crianças, sendo que mais de duzentas manifestaram problemas de saúde mental no rastreio, tendo passado para a fase de avaliação.
Segundo revela Marlene Sousa, “os encarregados de educação, quando respondem a estes questionários, recebem feedback”, o que significa que “logo à partida sabem de forma imediata se a criança pontuou no rastreio ou não”. Quando isto acontece, “é pedido um conjunto de informações" para a equipa do CoAction Against COVID-19 contactar telefonicamente e agendar uma consulta "para avaliação psicológica mais aprofundada" no sentido de perceber "o que é que está a acontecer e se a criança pode beneficiar dos programas de intervenção" disponibilizados.
Até ao momento, o CoAction Against COVID-19 já acompanhou cerca de 90 famílias em consulta psicológica especializada e individual, visto que este projeto disponibiliza, de forma gratuita, seis sessões asseguradas por psicólogos da APsi-UMinho. “Depois dessas seis sessões avaliamos novamente, e se, eventualmente, alguns dos problemas se mantiverem, há a disponibilização de mais seis sessões de uma forma também gratuita”, salienta Marlene Sousa.
“Este projeto não tem só um caráter remediativo em relação a problemas que já existem, mas tem também um caráter preventivo. E, portanto, quanto mais precocemente nós atuarmos sobre aqueles sintomas que estão a emergir na criança, mais facilmente estamos a prevenir situações mais gravosas do ponto de vista da saúde mental. Nós sabemos que resolver essas questões muito precocemente é um grande fator protetor para o desenvolvimento futuro, não só na infância, mas também na adolescência em idade adulta”. Psicóloga e investigadora, Marlene Sousa
A 2.ª edição deste projeto comunitário pioneiro em Portugal está a decorrer e além do impacto da pandemia, endereça também as questões relacionadas com guerra na Ucrânia e as dificuldades financeiras que estão impactar as famílias e, por sua vez, também as crianças. “Há vários estudos que indicam que em tempos de adversidade, como esta questão da pandemia, há um agravamento substancial da percentagem de pessoas que vão apresentar problemas de saúde mental”, sublinha Marlene Sousa.
O 2.º lugar conquistado do Prémio AGIR 2021 da Redes Energéticas Nacionais (REN) veio ajudar a disponibilizar esta resposta comunitária e especialmente sa disponiblização da intervenção psicológica a todas as crianças e famílias porque permitiu alocar mais recursos humanos ao projeto.
Este projeto resulta de uma parceria entre este CoLAB na área social, a Câmara Municipal de Guimarães, a Associação de Psicologia da Universidade do Minho (APsi-UMinho) e o Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho (CIPsi).
O ProChild CoLAB disponibiliza um tutorial em imagens que explica os passos que devem ser seguidos para que o/a encarregado/a de educação de crianças entre os 3 e os 10 anos a frequentar o ensino pré-escolar e primeiro ciclo da rede pública do Concelho de Guimarães preencha os questionários disponíveis na plataforma +Cidadania