É do Palácio da Diversão de Cedric Price que nasce a inspiração para o projeto Palácio da Imaginação, uma candidatura aprovada no âmbito do programa de financiamento público Bairros Saudáveis, que aproveitando o cariz comunitário do Bairro da Emboladoura em Gondar, tem vindo a ressignificar este espaço com várias atividades desenvolvidas desde outubro de 2021.
Quem se lembra e conhece a música de Vinicius de Moraes - “Era uma casa muito engraçada, Não tinha teto, não tinha nada, Ninguém podia entra nela não, Porque na casa não tinha chão…”? Pois é, o Palácio da Imaginação tem vindo a ganhar teto, chão, paredes e, tanto dentro como fora, nele vai habitar o diálogo, a brincadeira, o bem-estar, estilos de vida saudáveis, saúde mental e saúde familiar, mas acima de tudo, muito convívio e diversão…Só é preciso um pouco de imaginação e vontade de transformar um território num espaço agradável para viver.
A Escola de Arquitetura, Arte de Design da Universidade do Minho Lab2PT, a Fraterna e a ProChild CoLAB juntaram-se, no âmbito das respetivas intervenções, para responderem às necessidades identificadas pelos moradores e pelas instituições para melhorar as condições de vida deste bairro social construído há mais de 40 anos.
Assim nasceu o Palácio da Imaginação, a proposta desenhada enquanto lugar comunitário multifuncional para dar vida ao Bairro da Emboladoura e colmatar a ausência de espaços públicos coletivos, nomeadamente cobertos que possam abrigar os diferentes grupos e albergar atividades diversas promotoras de vidas mais saudáveis.
“A imaginação é a porta para a vida feliz. Não se paga e está sempre disponível”, começa por contextualizar a arquiteta Cidália Silva, na candidatura ao programa Bairros Saudáveis do Projeto Palácio da Imaginação. “Assim este projeto pretende criar possibilidades de vida partilhada em descoberta permanente. Através da desconstrução do que é um Palácio, sem lhe retirar a génese de algo excecional. Palácio-processo feito com as crianças, as mães, os pais, os avós, os primos e tios, e também com tantos outros que se querem juntar nesta imaginação: co-criação coletiva aberta e contínua”, termina.
Em candidatura estão previstas a realização de 18 atividades, sendo que já foram realizadas 11, entre elas seis que contaram com a participação ativa de crianças e jovens tanto no respetivo desenvolvimento como na sua apropriação. “Temos contado com a participação efetiva da comunidade mais jovem do Bairro dos 6 aos 18 anos, desde a co-criação de materiais de divulgação e promoção das atividades do projeto, o logótipo do projeto, por exemplo, passando também pelo apoio na organização das atividades, o que lhes confere um sentido de pertença e de maior compromisso com este projeto”, explica a coordenadora do projeto, Sofia Machado. “A restante comunidade tem assumido um papel mais pontual, mas igualmente importante e fundamental, sendo a sua participação transversal a todas as atividades já desenvolvidas”, analisa.
Das atividades realizadas o destaque é, desde logo, dado à primeira atividade do projeto realizada a 20 de novembro de 2021. “Interdialogar” foi uma atividade que quis estimular visões presentes e futuras para o bairro, procurando perceber os desejos e anseios de quem lá vive, o que fazem, como e onde, que espaços precisam para ser e fazer o que desejam. Foi nesta atividade que se deu a conhecer à população em geral o Palácio da Imaginação: “Apresentamos a exposição sobre a atividade ‘Imagino este Lugar’, desenvolvida com as crianças e jovens do Bairro da Emboladoura, onde foram discutidas as necessidades identificadas nos espaços exteriores do bairro”, lembra Sofia Machado.
“Habitar o brincar”, foi a atividade escolhida para a 28 de maio, no âmbito das Comemorações do Dia Mundial da Criança se celebrar o Dia Mundial do Brincar. Sofia Machado revelou que “através de um espaço com momentos de conexão com a natureza, da diversão com uma oficina de brinquedos mecânicos, de um espaço de brincadeira e promoção da leitura com o Ateliê Conto e linha” se passou uma tarde de convívio em comunidade. As crianças e jovens também não ficaram indiferentes a este dia e ao facto de terem assumido um papel importante na concretização das atividades desenvolvidas. “A coisa mais importante para mim foi o trabalho em equipa a preparar a festa, a fazer a comida e a fazer a decoração com as fitas”, avaliou a Tatiana. “Fiquei feliz pelo fato de todos terem gostado das bolachas que fiz e de toda a comunidade se sentir envolvida nas atividades”, acrescentou a Lara. Além do feedback destas adolescentes, a Beatriz, com sete anos, também não ficou indiferente aos cenários de partilha construídos para celebrar este dia: “Gostei da guerra de almofadas com os meus amigos e de brincar nas tendas”, referiu em jeito de balanço.
Na primeira quinzena de setembro realiza-se a atividade “Ativar a Prevenção Universal” que se destina à comunidade mais jovem do Bairro e pretende contribuir para a promoção do desenvolvimento socioemocional e estilos de vida saudáveis. “A atividade será dinamizada pelo médico psiquiatra Joaquim Borges através de três sessões de sensibilização dos comportamentos de risco infantojuvenis”, adianta a coordenadora do projeto.
Ainda no mês de setembro será desenvolvida a atividade “Habitar a Comida” com uma oficina do pão comunitária desenvolvida pelo Restaurante Cor de Tangerina e um espaço de sensibilização de alimentação inclusiva e saudável para crianças e jovens dinamizado pela médica pediatra Georgina Monteiro, com o objetivo de promover o empoderamento alimentar e a necessidade de compreensão prática que ‘comer bem não é de elites’.
“Já com data definida, dia 24 de setembro, iremos promover a atividade Ativar a troca, um mercado de bairro comunitário. Também nesse dia será inaugurada a BOX, que durante os últimos meses foi construído o protótipo em conjunto com as crianças, jovens e adultos do Bairro da Emboladoura”, revela Sofia Machado.
Esta BOX nasceu na atividade “Recriar o estudo”, uma iniciativa que procurou condições para os desafios atuais como o ensino à distância ou locais para reuniões e para potenciar a apropriação do espaço pela comunidade. Estamos a falar de seis módulos com estrutura de madeira que podem e devem ser agregados para se adaptarem às necessidades da comunidade.
Para outubro está prevista a inauguração do tão esperado Espaço Comunitário Multifuncional para o Bairro da Emboladoura: o Palácio da Imaginação.